“Reprovei.
És um malandro! – disse o meu Pai. Não dás para os estudos – disse a minha
Mãe. E eu não sou malandro, nem burro! Ou serei? Realmente eu não estudo muito
e não entendo lá muito bem certas coisas que os professores dizem. Mas o meu Pai
até gosta que eu vá para o campo com ele. Ainda ontem carreguei sacos para o
tractor toda a manhã. Começámos ainda o sol mal tinha nascido e só parámos
quando ao meio-dia a Mãe nos chamou para comer o caldo. E trabalhei de boa
vontade. O meu Pai disse que eu ajudava mais do que um homem... Então serei malandro? A verdade é que gosto mais de
trabalhar no campo do que estar na escola. Não vejo para que servem muitas das
coisas que lá se estudam. E depois... os professores não ajudam! No princípio do
ano eu julgava que ia conseguir e até ia com vontade. Mas comecei logo a
desanimar. Foi lá uma senhora à sala e disse que aquilo ia ser difícil, que
muita gente ia reprovar. Só quem trabalhasse muito e tivesse boa cabeça é que
conseguia. E ela tinha razão. Comecei a não entender coisas – os professores
falam de uma maneira tão difícil! Eu tinha vergonha de perguntar, porque me
parecia que só eu é que não entendia. E para além disso, alguns colegas faziam
tudo tão depressa! Mas eu, e muitos da minha turma, mal tínhamos começado e já
os professores estavam a querer tudo feito. E é aos que fazem bem os trabalhos
que os professores ligam mais. Gostam mais deles e é natural. São mais
inteligentes, trazem sempre os trabalhos feitos como os professores querem.
Estão sempre prontos a responder, levam todo o material que eles pedem. Mas
escusavam de nos desencorajar tanto, a nós que não temos tanta cabeça. Falam do
que fazemos e de sermos vagarosos, de um modo tão zangado!
Na
Páscoa tivemos uma aula de Ciências em que viemos apanhar bichos e os levámos
para a sala. Eu lembrei-me de construir umas gaiolas para os grilos e umas
caixas para as sardaniscas e as cobras-d’água que apanhámos. Depois até contei
sobre esses bichos algumas coisas que tenho visto e que eu sei. Trabalhei com
vontade dessa vez. Se fosse sempre assim! O professor até disse Para a brincadeira estás sempre pronto...
Acabou-se.
Agora já não há remédio. Certamente para o ano já não posso voltar para a
escola. Mas também não sei se me apeteceria. De alguns colegas gosto. Gosto dos
recreios, gosto de vir com eles para a rua. E gostava de gostar da escola e dos
professores. Mas nunca tive nenhum que gostasse de mim. Porque será?”
Estamos
no desenrolar deste período letivo. Esta publicação é para todos nós que temos
uma missão na área da educação. Bom trabalho!
Equipa de Educação Especial do Agrupamento de Escolas da Bemposta, PTM
(1)
Este
texto foi construído sobre relatos, feitos por vários alunos, de acontecimentos
autênticos ocorridos em escolas portuguesas (autor e data desconhecidos).